Quando conheci a Taciana, confesso que senti que estava diante de uma pessoa diferente. Diferente no sentido mais complexo e talvez mais puro da palavra. Chamavam ela de louca. Louca de pedra. Doida. Maluca das idéias. Coitada de Taciana, eu pensava, já antes de conhecê-la. Pena porque, num mundo como este em que vivemos hoje, ninguém tem autoridade para nomear, classificar ou estigmatizar ninguém. Depois, porque acredito que a loucura é algo muito mais sobrenatural do que acreditamos. Há tempos os psicólogos e psiquiatras tentam compreender os mistérios da mente humana e confesso que tenho o mais profundo respeito por essas pessoas ditas 'anormais'. Os 'loucos', na minha opinião, nada mais são do que seres humanos sem máscaras. Desprovidos daquela voz interna que nos alerta para as convenções sociais, aquela voz que está constantemente na nossa mente, regulando aquilo que pode e que não pode ser feito.
A Taciana não tem essa voz. E da primeira vez que conversei com ela, tive ganas de saber mais, de descobrir o que pensa aquela criatura tão diferente, tão forte, mas que ao mesmo tempo me transmitia tanta fragilidade.
Taciana é apaixonada por cachorros. Ela admira muito mais estes animaizinhos do que os seres humanos. E os coloca em primeiro lugar, na frente até mesmo dos homens. Imagina, ter mais pena de um cachorro abandonado na rua do que de uma criança... Eu não concordo! Não posso desprezar seres humanos que matam, roubam e cometem as maiores barbáries gratuitamente. Não posso desprezar a única criatura deste mundo capaz de matar seu semelhante sem motivo algum e sequer sentir-se culpado por isso. Não posso, porque não é politicamente correto. A Taciana pode, porque a voz não está na mente dela. E ela espalhava aos quatro ventos, para quem quisesse ouvir. Essa era a coisa que mais lhe importava na vida, a solidariedade! (Com os humanos SIM, mas primeiro com os cachorros!)
Taciana em toda sua vida se sentiu diferente do mundo a sua volta, como se tudo aqui não fosse feito para ela. Mesmo existindo milhares e milhares de lugares, coisas e pessoas, ela não se familiarizava com nada. O que as pessoas consideravam comum, a moda, o normal, nada disso chamava sua atenção. Quando criança era alienada, manipulada, não tinha outra escolha. Mas um dia ela cresceu e descobriu que a alienação imposta pelo mundo, não apenas por seus pai, todas essas ordens, podem ser queimadas. Concretizou que as coisas ruins se resolvem no fogo, de onde só sobram as cinzas e cinzas se alienam, mas se alienam com o vento, que é por si só perfeito.
Taciana confia muito em mim, é em mim que ela confia. E ela tem motivos para isso. Eu sou a única 'coisa' no mundo que jamais a decepcionará. No fundo eu sei que ela é louca, assim como todos sabem, ela não tem a tal da voz. Eu a entendo de verdade, ela me orgulha, eu sei que um dia ela será uma mulher que só me trará felicidade. A cada dia fica fácil de se ver que ninguém sabe o que realmente se passa pela mente dela. Sua alma irradia luz. A alegria que ela trás no peito é simples e sem complicações.
Taciana pode ser calma e ao mesmo tempo descontrolada, mas de uma coisa eu tenho certeza, ela não poderá, jamais, ser profundamente estudada!